Roberta Lotti

 

Herdeiros de uma das civilizações mais antigas do mundo, os chineses foram os precursores dos movimentos de preservação e restauração da saúde, contribuindo para a longevidade de seu povo. Desde 2500 a.C., já praticavam exercícios suaves e assertivos para melhorar os movimentos das articulações e aliviar a dor muscular causada pelas longas jornadas de trabalho. Com o passar do tempo, essas técnicas foram sendo aperfeiçoadas e passadas adiante como formas de viver melhor. “São todas práticas holísticas, que trabalham corpo e mente ao mesmo tempo. Cada uma tem suas particularidades, mas todas se pautam pelos princípios de eficácia, isto é, mínimo desgaste energético e máximo resultado”, explica Maria Lucia Lee, professora de Lian Gong, de São Paulo. “Por máximo de resultado pode-se entender força física, aperfeiçoamento das funções fisiológicas, regulação da respiração, das emoções e da mente”, detalha a profissional.

Os exercícios – alguns mais ágeis, outros menos, dependendo da modalidade – são indicados tanto para manter o bem-estar e prevenir enfermidades como também para o tratamento de diversos males, desde dores nas costas e nas articulações até estresse, labirintite, lúpus, depressão ou câncer. E não há contraindicação, muito pelo contrário. Pessoas debilitadas e de qualquer idade podem – ou melhor, devem – experimentar esses movimentos. Como o dao yin e o lian gong, que visam equilibrar a circulação de energia, sangue e fluidos corporais por meio de posturas bem encadeadas. Dos exercícios chineses, o lian gong (pronuncia-se liam kum), é, relativamente, o mais recente. Em 1974, o Dr. Zhuang Yuen Ming, ortopedista em Xangai, percebeu um aumento na incidência de pacientes com dores musculares e articulares. Naquele momento, a região migrava do contexto agrícola para uma realidade industrial. Dr. Zhuang desenvolveu, então, uma sequência de exercícios mais próxima da linguagem ocidental, considerando as necessidades do homem moderno.

A prática exige concentração, ritmo e trabalha com o fluxo do Qi (energia vital), mas está mais diretamente ligado à questão física. “São manobras terapêuticas e fisioterápicas voltadas para o alívio das dores. Trabalhamos com muito alongamento, tônus muscular, indo aos extremos com suavidade, pois os movimentos são amplos, lentos e contidos”, explica a professora Eliane Daruj.

A sequência é composta de três partes de 18 movimentos cada. A primeira trabalha o sistema musculoesquelético; a segunda atua em articulações, tendões e órgãos internos; e a terceira ajuda no fortalecimento do sistema cardiorrespiratório. Cada parte tem duração de 12 minutos e pode ser praticada separadamente.

Tudo isso contribui para gestos cotidianos como o de agachar- se, levantar-se e ter mais flexibilidade. Já para as pessoas que têm dores, a prática leva até à cura. “Uma aluna quebrou o braço e optou por fazer lian gong em vez da fisioterapia”, conta Elaine. “A recuperação foi surpreendente e ela ficou muito feliz, pois, além do foco no braço lesionado, também trabalhamos a respiração, a calma. Os benefícios são amplos”, diz. “Recentemente outro caso de destaque foi o de uma senhora com osteopenia (estágio inicial da osteoporose) que detectou um aumento da massa óssea depois de ter iniciado a prática. Isso é bem raro, mas foi muito gratificante saber que o exercício conseguiu isso”, relata a professora.


Leveza que dá vitalidade

Outra alternativa chinesa é o dao yin (“dao” significa caminho; “yin”, direcionar). “Os exercícios, inspirados em animais, no vento, no mar e em fenômenos naturais, são suaves, lentos, arredondados e espiralados, imbuídos de firme intenção”, explica o professor Jaime Kuk. A prática, que lembra uma dança, acontece em 12 exercícios sequenciais e ritmados executados em pé, ao som de uma música composta especialmente para ela. Neles se combinam atividade muscular, respiração, emissão vocal de sons sutis e foco mental em pontos específicos usados na acupuntura. Além de desbloquear a circulação do Qi, fortalecendo músculos, tendões e ossos, e harmonizando as funções dos órgãos internos, o dao yin refina os sentidos e aguça a percepção.

Dessa forma, o organismo transforma a potência obtida do mundo material numa energia sutil que circula pelo corpo através de canais específicos (os chamados meridianos). “Isso está ligado às emoções, que por sua vez estão associadas a órgãos específicos. Portanto, ao desbloquear e harmonizar esses canais de energia, o dao yin desencadeia serenidade”, diz Kuk. E muito bem-estar.


CONHEÇA AS PRÁTICAS CHINESAS OFERECIDAS NA PALAS ATHENA

Exercícios da Medicina Tradicional Chinesa
Com Maria Lucia Lee
Quintas-feiras, das 9h às 10h15

Tai Chi Chuan

Com Jaime Kuk
Segundas ou sexta-feira, das 10h às 11h

Dao Yin
Com Jaime Kuk
Quarta-feira, das 17h30 às 18h30