Helena Galante – Revista Veja São Paulo

 

Lia Diskin, uma das fundadoras da Associação Palas Athena, lista os benefícios da meditação.

EFICÁCIA MILENAR
O crescimento da busca por meditação é um fenômeno mundial. Ele vem das décadas de 60 e 70, ainda muito misturado com o culto a grandes gurus. Com o tempo, fomos percebendo que há outros recortes, sem viés religioso. A meditação como prática não se teria sustentado por milênios se não tivesse eficácia.

NÃO É SOBRE VOCÊ
Minha questão é que estamos atrelando a meditação ao campo da saúde individual, e seu propósito original sempre foi ampliar a percepção da realidade. como eu me aproprio do conhecimento de estar percebendo através de meus filtros?

MESMA SITUAÇÃO, DOIS PONTOS DE VISTA
Caso você tenha sido criado num lar com animais, é provável que encontre um cachorro na rua e vá brincar com ele. Pelo contrário, se foi criado longe deles ou mordido quando criança, talvez atravesse a rua. O cachorro é o mesmo, mas a percepção pessoal será diferente.

LIBERAÇÃO DO PASSADO
Justamente nesse ponto em que me encontro genuinamente, além do meu tempo histórico e do meu repertório particular de crenças, é que começa a meditação.

DEPOIS DO AUÊ
Toda novidade chega com uma dose de excitação. Hoje temos aplicativos que nos conduzem a respirar atentamente por dois minutos, por exemplo. depois, você se sente melhor, mas resolveu apenas o efeito, e não aquilo que fez a respiração acelerar-se. A meditação é um acesso à causa: o que me provoca inquietação?

APROVEITAR A BRECHA
Entre tudo que planejo, imagino e fantasio e o que realmente acontece há uma grande diferença. Quando conheço meus mecanismos em ação, passo a conseguir uma frestinha para pausar e refletir sobre como quero agir. Só assim sou capaz de fazer escolhas conscientes.

APRENDIZADO CONSTANTE
Mesmo para grandes meditadores, com alta quilometragem na prática, a mente continua sendo rebelde. Em uma analogia com as aulas de piano, no começo o aluno nem sequer sabe as notas. depois, começa mais ou menos a se dar conta das passagens. Para chegar a ser um concertista, precisa se dedicar por longos períodos diários durante anos. Se você quer os efeitos de um treino, deve estar predisposto a investir seu tempo nisso.

SEM OBRIGAÇÃO
A dedicação diária faz muita diferença, mas não tem sentido meditar por obrigação. Assim ela se torna uma atividade muito dolorosa. Há que ter vocação para esse tipo de disciplina, que pertenceu durante muito tempo ao universo da vida monástica.

MOMENTO ÚNICO
É a primeira vez que estamos tendo acesso a esse conhecimento dentro do universo da vida laica. A meditação é muito mais um exercício no escopo da espiritualidade do que da religiosidade. O início é pelas práticas atencionais, que vão formar um chão sobre o qual pode se firmar uma prática meditativa. Sem uma atenção minimamente lúcida, não há espaço para manobra.

TERMÔMETRO DA PRÁTICA
Alguns indícios da dedicação à prática são fáceis de vislumbrar. A irritabilidade diminui significativamente, a pessoa se torna muito menos melindrosa e suscetível. Ao aceitar que há dias em que se está muito bem sintonizado e em outros não, compreendem-se o ritmo e o pulsar da vida com mais facilidade. Sempre digo nas aulas que dá para saber o estado emocional de uma pessoa conforme o ruído que ela faz ao lavar os pratos.

APLICAÇÃO IRRESTRITA
Sem sombra de dúvida, o pior que pode acontecer é confinar o propósito da meditação ao tapetinho da prática. Treinamos para que as qualidades estejam expressas nos relacionamentos, na maneira como lidamos com tudo.

Matéria original disponível em:
https://vejasp.abril.com.br/blog/felicidade/meditacao-para-ampliar-a-percepcao/?fbclid=IwAR14AksBL0Wvy46rQ2xZSNHu6G0gdCcUFL8s2h3o64hW1-zxdk3Fe7k1b2k