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Com auditório lotado, na última terça-feira (10/5), aconteceu mais um evento do Fórum do Comitê da Cultura de Paz, no Museu de Arte de São Paulo. Em sua 88º edição, esse encontro reuniu duas especialistas da cultura de paz: a cientista social Petronella M. Bonnen, doutora em educação pela Universidade de São Paulo com tese sobre justiça restaurativa e mestra em educação, com pós-graduação em mediação de conflitos; e Joanne Blaney, mestra em educação pela Universidade de Marlyland e cientista política. Ambas atuam no Centro de Direitos Humanos e Educação Popular de Campo Limpo (CDHEP). As especialistas explicaram o programa Perdão e Justiça, voltado para formação e capacitação de pessoas e organizações para a construção de uma sociedade de paz. Dentro dessa iniciativa,há o projeto Escola de Perdão e Reconciliação. Elas explicaram a atuação, os desafios, os efeitos e os envolvidos nesse projeto. Também foi lançado um livro resultado da aplicação desses conceitos de justiça restaurativa*(ver no final do texto) a cerca de 1.500 crianças e adolescentes, professores e comunidade. Joanne comentou que a aplicação dos conceitos de justiça restaurativa a crianças ajudou na diminuição da agressividade. “A mudança interna é fundamental para o que pede a cultura de paz”, afirma. A cientista política disse que as crianças hoje usam argila nas atividades escolares, como ações sugeridas pela educação popular, fazem a ligação entre leitura e escrita com a importância da espera; aprendem a controlar a raiva e espera o outro falar. A educadora explicou que foram necessárias oficinas de sensibilização. Para isso, foram criados quatro núcleos de práticas restaurativas* (ver no final do texto). “Os jovens são convidados a lidar com raiva. É necessário saber perdoar. O mais difícil é a gente se perdoar. É importante para o convívio em uma sociedade”, reforça. Um dos pontos mais indicados pela própria comunidade foram os grupos de confiança (87%). São espaços criados para todos falarem, exporem o que desejam resolver. “Essa prática ajuda a ter outro olhar, por meio de uma comunicação assertiva”, reflete Joanne. Essas práticas, segundo a educadora Joanne, colaboram que a responsabilização de um ato seja sempre compartilhada. Ela também indicou dificuldades na trajetória desse projeto, como: conflitos de valores que geram divergências para crianças e adolescentes; mudanças na equipe e novos alunos entrando durante o ano; falta de tempo aos educadores para se tornarem multiplicadores com os pais e outros adultos. Joanne também esclareceu a diferença entre perdoar e reconciliar. “A gente entende que a reconciliação é entre as pessoas. Posso perdoar sem falar, mas reconciliar é construir novamente as relações”, elucida. O porquê ainda no foco Com o tema da tese de doutorado sobre justiça restaurativa, Petronella questionou a lógica da verdade. Estruturou da seguinte forma: dos fatos (o quê?); dos sentidos (por quê?); e das necessidades (para quê?). A educadora disse que em uma punição dificilmente é questionada para quê, sempre fica até a questão por quê. “Cada envolvido no conflito tem suas próprias verdades. O processo de reconciliação pede a construção de uma verdade mínima, aceita por todos.” Segundo a cientista social, as pessoas foram treinadas para dizerem o que sentem e precisam se sentir seguras no ambiente. Para ela, as pessoas entendem a vida pela punição. “O tribunal de justiça dificilmente colabora para esse movimento de restaurar”, diz. Bonnen esclareceu a punição como algo para fazer sofrer alguém intencionalmente. “O conteúdo não é desejado. Ele se torna sujeito a uma vontade alheia. Esta imposição, submissão, torna difícil como meio para reforçar a responsabilidade e a cidadania”, ressaltou. Ela comenta que a Escola do Perdão e Reconciliação apresenta a necessidade de desconstruir a necessidade de punir. Uma saída é a confrontação com os próprios atos, uma tentativa de responsabilização e autoresponsabilização dos envolvidos em ofensas e crimes. A ideia é educar o sujeito para que ele reconheça a responsabilidade, restaure o que foi danificado. Ela termina com um pedido: “Busquemos o caminho do perdão, menos vingança, ações conjuntas, menos isolamento, restauração menos punição, igualdade, menos competição, uma solidariedade que leva para a reconciliação”.
Fonte: Setor3 |


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