Se avaliarmos a dimensão das violências que, pelo mundo fora, atentam contra a humanidade do homem, não poderemos alimentar a idéia de que é imediatamente possível inter¬vir para fazer cessar todas elas. Quando, em determinado território, estão reunidos todos os fatores para a eclosão da violência, ela eclode efetivamente e o irreparável acontece sem que ninguém possa intentar intervir para evitá-lo. Com efeito, já é tarde de mais. Teria sido necessário agir antes de o seu desencadear. É claro que não há nenhum fatalismo no desencadear da violência do homem contra o homem, porque não é de modo algum fatal que os fatores que desencadeiam essa violência estejam reunidos. Mas, desde o momento em que o estão por responsabilidade dos homens, torna-se inevitável o desencadear da violência. Provavelmente, nem os meios da violência, nem os da não violência poderão extinguir o incendiar dos medos, das paixões e dos ódios. Frequentemente, ainda será necessário que estes se consumam e extingam por si mesmos. O sistema de violência que dominou as sociedades durante séculos não só não acabou de lançar o seu veneno mortal no nosso presente, como, provavelmente, também o lança no nosso futuro. Ao esforçarmo-nos por desmantelar esse sistema, temos de avaliar a parte de irreparável que continua a criar.

Não basta afirmar que existe um dever e um direito de ingerência, é também preciso ter o poder para exercê-los. Qualquer projeto de intervenção deve ser submetido ao critério de exeqüibilidade e oportunidade. Existem situações de violência tais que qualquer intervenção estaria provavelmente votada ao fracasso. Mas o fato de ser difícil intervir no terreno não significa que não devamos fazer nada. Pelo contrário, convém tomar “à distância” todas as iniciativas susceptíveis de influenciar o desenrolar do conflito.

A tarefa proposta àqueles que querem intervir para estabelecer a paz no mundo é gigantesca; é desproporcionada em relação aos meios de que efetivamente dispõem. Para levá-la a bom termo, seria preciso que a comunidade internacional se mobilizasse. Mas, em grande parte, a “comunidade inter¬nacional” é uma ficção. Nos fatos, são os Estados-nações que detêm a realidade dos poderes de decisão e de ação. E geralmente, a principal motivação dos Estados não é a fidelidade aos valores proclamados pela Declaração Universal dos Direitos do Homem, mas sim os seus interesses particulares. Quando a comunidade internacional decide intervir para manter ou restabelecer a paz, os objetivos e a estratégia de cada um dos Estados intervenientes são mais determinantes do que a decisão internacional da intervenção.

 

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