1. Introdução: O que é uma palavra? Ou duas? Ou três?

Quando tratamos com palavras tão ricas como “cultura” e “paz”, é aconselhável proceder com algum cuidado. Um consenso sobre seu uso não é possível nem desejável, nem sequer necessário. Mas o leitor tem o direito de saber como o autor está usando as palavras. Deve haver uma espécie de contrato, explícito até, ao menos durante a leitura destas páginas. Assim, mãos à obra:

A cultura é um aspecto simbólico da existência humana. A cultura é representação, através de símbolos, em geral visuais ou sonoros, organizados de modo diacrônico ou sincrônico2. Recentemente esta representação (como se vê na TV em tempo real ou no computador de forma interativa) aproximou-se tanto da realidade que o termo “realidade virtual” é usado como uma realidade fictícia. Talvez alguém alegue que isto não é arte, que a arte ressalta alguns aspectos da realidade e obscurece outros. Mas esta não é uma objeção válida, pois a cultura é uma categoria mais abrangente que a arte.

Como acontece com as finanças em relação à economia real, a cultura vai adquirindo vida própria, com sua própria lógica, no final acabando por representar nada senão ela mesma – ela evolui, se reproduz através do encontro de culturas e dá à luz novas culturas, que brotam como vírus e invadem a mente humana programando-a para reproduzir tal cultura, ocasionalmente somando ou subtraindo algo. O resultado é uma enorme quantidade de cultura, a linguagem sendo um dos exemplos mais óbvios, na sua forma escrita ou falada, e exigindo competências específicas de emissor e receptor.

Novamente recorrendo à comparação finanças / economia real: É preciso haver algum tipo de sincronia. Os humanos não vivem só de pão, mas tampouco vivem só de palavras, símbolos. Se há cultura demais em relação àquilo que ela representa, teremos inflação, um estado de “sobreculturação” – e se há cultura de menos, teremos um estado de “subculturação”, ou a escassez de significado. Muitas vezes falamos do desgaste de certas palavras, como acontece com a palavra “paz”, para não mencionar a palavra “amor” que são ditas sem lastro de valor real. A “paz” da guerra fria é um exemplo disso3. Tal fenômeno pode resultar em falta de confiança e numa “quebra” da bolsa cultural: algumas palavras, como as ações das empresas, passam a não valer nada. A queda do valor pode ser rápida ou lenta, como o índice Dow Jones comparado ao Nikkei.

 

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